Criativity

terça-feira, abril 04, 2006

Recorte - "O recreio da escola"

"Da minha janela, vejo as crianças
a brincarem no pátio da escola.
E é como olhar para o futuro sem
sombras, sem nuvens. Agora que
já percorri mais de metade
da minha vida, dou-me conta
de que existem coisas que nada
se pode trazer de volta, por mais
cirurgias plásticas e novas paixões
que se inventem.
Aquelas crianças têm o mundo
na mão. Acreditam no Super-
-Homem, acreditam que os seus
pais são os melhores do mundo.
Acreditam em fadas e viajam
à lua sem saírem do pátio da escola.
A vida vai trazer-lhes tudo. Será
que vai? Será que a perda desta
inocência vale a entrada nomundo
dos adultos? A competição
desenfreada, a necessidade de
umemprego que traga o status,
o amor descartável que vai encher
as estatísticas dos divórcios?
Há qualquer coisa que está errada.
Nãosei oquê. Sei quea minha
geração tinha mais tempo para
sonhar, tinha mais hipóteses
de acreditar e ter ideais.
Não tínhamos computadores, net,
centenas de canais de TV, não
sabíamos o que era ter medo
de um desconhecido no jardim,
não tínhamos discotecas nem
imaginávamos que fosse possível
chegar a casa quando o sol
nasce.
Não, não estou a ser saudosista.
Estou apenas preocupada com
o futuro da minha neta, do planeta,
das histórias de amor para
sempre. Das fadas que vão
desaparecer para dar lugar
a monstros eléctricos que voam.
Apenas isso."


Luísa Castel-Branco
in coluna semanal Instantes, Jornal Destak, 16.03.06