Envelhecer

A frase do dia 6.11 - "Envelhecer é duro. Eu penso nisso todos os dias, constantemente" da Jennifer Lopez -, tocou muita gente, todos tinham opiniões diferentes sobre o assunto (consoante a idade e a personalidade de cada um) e quiseram falar comigo, uns através de comentários aqui no blog, outros através de emails e outros ainda, pessoalmente. Por isso, decidi colocar hoje um excerto do livro As terças com Morrie de Mitch Albom (Ed. Sinais de Fogo), no qual Morrie fala justamente deste assunto, o "medo de envelhecer":

" (...)
Nunca tiveste medo de envelhecer, perguntei eu?
- Mitch, eu abraço o envelhecer.
Abraças?
- É muito simples. À medida que cresces, aprendes mais. Se ficasses pelos vinte e dois anos, serias sempre tão ignorante como eras aos vinte e dois anos. Sabes, envelhecer não é só decadência. É crescimento. É mais do que o negativo de que vais morrer, é também o positivo de que vais compreender que vais morrer, e que vives uma vida melhor por causa disso.
Sim, mas se envelhecer é tão valioso, porque é que as pessoas dizem sempre 'Ah, se fosse novo outra vez.' Nunca ouves ninguém dizer 'Gostava de ter sessenta e cinco anos.'
Sorriu.
- Sabes o que isso reflecte? Vidas insatisfeitas. Vidas incompletas. Vidas que não encontraram sentido. Porque se encontrares sentido na vida, não desejas voltar atrás. Queres ir para a frente. Queres ver mais, fazer mais. Estás mortinho para chegar aos sessenta e cinco.
'Ouve, tens que saber uma coisa. Todos os jovens têm que saber uma coisa. Se estiveres sempre a batalhar contra o envelhecimento, vais ser sempre infeliz, porque isso vai acontecer de qualquer maneira.'
'E Mitch?'
Baixou a voz.
- O facto é que vais mesmo acabar por morrer.
Acenei que sim.
- Não interessa o que dizes a ti próprio.
Eu sei.
- Mas, se Deus quiser, - disse ele - não por muito, muito tempo.
Fechou os olhos com um ar pacífico, e depois pediu-me para ajustar as almofadas por trás da cabeça.

(...)

Como evitas ter inveja...
- O quê?
De mim?
Sorriu.
- Mitch, é impossível aos mais velhos não terem inveja dos mais novos. Mas a questão está em aceitar quem somos e festejarmos isso. Esta é a tua vez de viveres os trintas. Eu tive a minha vez de viver os meus trinta anos, e agora é a minha vez de ter sessenta e oito.
'Tens que encontrar o que é bom e verdadeiro e maravilhoso na tua vida, tal como é agora. Olhar para trás torna-te competitivo. E a idade não é tema de competição.'
Exalou e baixou os olhos, como se para ver a sua expiração a dissipar-se no ar.
- A verdade é que parte de mim é de todas as idades. Tenho três anos, tenho cinco anos, tenho trinta e sete anos, tenho cinquenta anos. Já passei por todas as idades, e sei como são. Delicio-me em ser criança quando é apropriado que seja uma criança. Delicio-me em ser um velhote sábio quando é apropriado ser um velhote sábio. Pensa em tudo o que posso ser! Tenho todas as idades, até à minha. Consegues compreender?
Acenei que sim.
- Como posso ter inveja de onde estás se já lá estive?"

É pena que a maioria das pessoas só se aperceba disto quando chega ao fim da sua vida e se vê privado da sua autonomia e independência. Por isso, acho que todos deveriam de ler este livro ou ver a adaptação para filme, pois dá-nos uma outra visão da vida e pode mudar a nossa para sempre.
Penso que isto responde a muitas das dúvidas que ouvi. Pelo menos, responde a muitas das minhas próprias dúvidas, já que estou numa fase de transição da minha vida. Entrei na faculdade e estou a dois meses e meio de fazer 18 anos, de tornar-me oficialmente adulto e totalmente responsável por todos os meus actos. Sei que isto, para muitos, não passa de uma formalidade, mas é um bocado difícil para mim pensar que o tempo voa e que eu vou deixar de ser criança em breve.
No entanto, a visão dos 18 anos é ao mesmo tempo muito atraente, pois posso tirar a carta de condução, entrar nas discotecas para >18 e também para, durante umas semaninhas, sentir-me com a mesma idade dos meus colegas!