Criativity

quinta-feira, setembro 08, 2005

Apagam-se as luzes

Apagam-se as luzes. Tento encontrar a posição mais confortável na cadeira. Por momentos, a única coisa que ouço é o barulho de dezenas de pessoas a mastigar ferozmente as estaladiças pipocas.
Começam os anúncios. Em poucos minutos passam centenas de imagens freneticamente em frente aos meus olhos, mal tenho tempo para as separar e digerir. Brevemente isto... no Inverno aquilo... em DVD não sei o quê... compre a banda sonora de não sei que mais... Já tenho os olhos a doer e as lentes a secar. Mas de repente, pára tudo, só consigo ouvir o barulho das pipocas até que, por fim, começa o filme. O senhor que está à minha frente é alto demais para estar sentado a meio da sala (o que faz com que eu tenha uma grande cabeça a dividir o ecrã em dois), miúdo que está atrás de mim não pára de dar pontapés nas minhas costas, à direita, um grupo de pré-adolescentes não se cala, e a senhora idosa duas filas mais à frente não consegue parar de fazer barulho com a palhinha, enquanto bebe o seu "balde" de Coca-Cola. Por fim, passado pouco tempo, as pipocas acabam (pois a maioria das pessoas devora o pacote todo antes de começar o filme), as pessoas calam-se, afundam-se nas cadeiras e deixam de se mexer. Já consigo ver o ecrã inteiro e já fiz uma cara tão ameaçadora ao miúdo de trás, que até consegui surpreender-me a mim próprio, e consegui que ele parasse de dar pontapés.
É esta a "rotina" pré-filme. Apesar de, por vezes, despertar em mim perigosos pensamentos assassinos inéditos, vale a pena.

Há pouco tempo, aprendi a distinguir dois tipos de filmes distintos, o cinema mais comercial e o cinema mais artístico. Isto fez-me pensar mais quando tenho de escolher um filme: entretenimento ou arte? Histórias "light" ou histórias mais complexas e fundamentadas que nos fornecem mais cultura geral? Peter Jackson (Lord of the Rings) ou Bernardo Bertolucci (The Dreamers)? Simon West (Tomb Raider) ou Roman Polanski (The Pianist)?
Adoro cinema. As pessoas de hoje em dia deviam ir mais ao cinema, deixarem de dizer que "não têm tempo", pois o tempo são as próprias pessoas que o fazem.


O cinema leva-nos ao passado, ao presente e ao futuro. Faz-nos viajar por todo o mundo, conhecer Nova Iorque, Kuala Lumpur, o Hawaii, o Quénia, Las Vegas, o México, Veneza, o Egipto, a Lua... e também terras e planetas fantásticos com habitantes mais fantásticos ainda. Personagens como a Miss Piggy, Daniel Ocean (Ocean's 11, Ocean's 12), os 101 Dálmatas, o Conde de Monte Cristo, o Rei Artur, o Burro (do Shrek), James Bond, Vincent Vega (John Travolta, Pulp Fiction), Batman, Superman, Silvia Broome (A Intérprete), o Rei Leão, a Branca de Neve, Mr. Bean, Vivian Ward (Julia Roberts, Pretty Woman), Hércules, Maggie Fitzgerald (Million Dollar Baby), e muitos outros, tornam-se (quase) realidade e, por momentos, acreditamos fielmente que afinal a Julia Roberts chama-se Vivian e Richard Gere, Edward; que Eddie Murphy é um Burro e que Cameron Diaz é uma princesa, que se transforma num monstro verde à noite; que Anthony Hopkins é o assassino Hannibal Lecter e Jodie Foster é Clarice Starling, uma agente do FBI.
É assim, a 7ª arte.

6 Comments:

  • At 2:00 da tarde, Blogger Viajantis said…

    E é assim mesmo que gostei de ler o teu texto!
    Decididamente Bertolucci e Polanski....
    E sem dúvida que a Cameron Diaz é uma princesa, mas prefiro que mantenha a cor original!eheheheh

    Quanto ao tempo....e ao que fazemos dele, lê o post que deixei há momentos no meu blog "A vida são dois dias".
    Abraço

     
  • At 3:40 da tarde, Blogger Maria Carvalho said…

    Adoro cinema. descreves muito bem a sequência 'pré filme' nos dias que correm. No meu tempo não havia pipocas e todos estavam em silêncio. Mas, através dos filmes além de viajarmos imenso, temos oportunidade de nos colocarmos na pele daquele personagem, e vivermos a vida por ele!! É maravilhoso, transporta-nos a uma outra dimensão, que só o cinema pode oferecer!! Adorei o teu comentário no meu blog, mas eu sei que já lá tinhas ido ver, só que ainda não tinhas podido comentar, e agradeço muito. Não me envies cumprimentos, Francisco, dá-me antes beijinhos...obrigada

     
  • At 6:20 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Estou tramada... se isto continua assim e toda a família se revela com estes dons, onde vou ter tempo para a "vaisselle"? aplicar dicionário: Eu já disse à raposinha que eu tenho que esvrever noutra língua... português muito difícil..AH!Tia MQ

     
  • At 9:51 da tarde, Blogger Nuno Lebreiro said…

    Hummmmm... O cinema... O que dizer sobre esta magnânime arte? Para mim é a melhor forma de passar uma mensagem. O melhor filme é aquele que passado umas horas ou mesmo uns dias nos põe a pensar sobre a estória que nos conta. Um sonho que nos transmite. Uma ideia que semeia. E cria tempo. Em duas horas podemos ver uma vida inteira de alguém. É uma outra realidade. Ás vezes mais agradável...Outras vezes tão crua e poderosa que nos alerta para as nossas próprias existências. Há filmes que marcam gerações. Há estórias que nos fazem querer ser mais e melhores. Há mensagens que ainda mudam o mundo... Ou será que não? Não sei mas sem dúvida que adoro o cinema. Mas sem as pipocas...

     
  • At 4:22 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Bem francisco devido ao facto de há uns minutos atrás ter ouvido comentários pouco agradáveis proferidos da tua boca em relação ao meu português escrito no meu último comentário, aqui estou eu de novo a escrever desta vez correctamente para que percebas tudo.
    Em relação à tua última criação, devo dizer que mais uma vez tiveste acima do que eu esperava, com um texto excelente, acho que quem leu até ao momento sabe do que eu estou a falar, acho q em relação ao teu último texto (big apple) tenho a dizer que me agradou muito mais este texto porque além de ter mais haver contigo, também é um assunto que me diz mais a mim, e devo dizer-te que és um rapaz de sorte porque tens uma criatividade espantosa e acho que a consegues expô-la neste blog na perfeição.
    Tal como todas ou quase todas as pessoas já o mencionaram aqui, eu também vou estar atento às próximas criações.
    Um grande abraço

     
  • At 8:56 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Li depois do "Alentejo". E pensei como aquelas fotografias valem por mil palavras e como o seu texto, Francisco, cria uma autêntica sequência de imagens e emoções... No fundo contamos sempre uma história e a Arte é fazê-lo de forma a atingir os outros e a fazê-los pensar e sentir. Nem sempre tem de ser bela... mas tem sempre algo do Belo. Seja um texto, mesmo de um assunto técnico e lido no autocarro entre gente suada e apertada, uma imagem, até num telemóvel, ou cenas numa sala escura que nos prende... o que interessa é fazer-nos viajar em pensamento. Fica uma pergunta: os miudos da pré-história tb comiam pipocas qd iam vêr as grutas?!

     

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